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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Indiferença. Inexpressão.

Era um vez, uma princesinha que vivia confinada nas masmorras de um castelo enorme. Sozinha, sozinha, estava cansada da solidão. Até que um dia ela notou caminhando por ali um outro ser. Também sozinho aos seus olhos. Era um ser grande, peludo, tinha muitos dentes alinhados e perfeitos, a expressão do seu rosto era forte, mas meiga e tinha um quê de beleza incrível. Mas por observá-lo de longe não tinha notado ainda seus olhos.
Um certo dia, a princesa olhava distraída a paisagem emoldurada por sua janela que era a mesma de sempre, exceto pelos pássaros novos que pousavam, e pelas folhas velhas que caíam. Exceto pelos figos novos que nasciam devagarzinho todos os dia. Exceto as flores azuis que nasciam para preencher o lugar das cinzas que sobraram das flores vermelhas já mortas. Quando de repente a criatura apareceu e pareceu observá-la. Assustada, ela se abaixou saindo do campo de visão daquele ser. Mas curiosa que era, logo levantou-se e voltou a observar.
A criatura soprou o céu em sua direção. E cá no alto da torre, ela sentiu um vento meio quente, meio quente que trouxe com ele uma voz. Olá - dizia a voz. De olhos arregalados, a princesinha pensou: "que voz doce e fina...". Parecia uma voz de criança. E era um pouco melosa. Ela imaginou até que se abrisse um pouco a boca, poderia sentir o gosto doce daquela voz.
-Olá, oláá! - Mas ninguém a respondeu...
Uma súbita tristeza até lhe coçou a barriga. Só de pensar em nunca mais ouvir outra voz.
-Ei, você aí! - disse ela, atirando uma bolinha de papel que se encontrava ao alcance de sua mão.
Ele de costas, virou-se e agarrou a bolinha num só movimento. Arrancou um espinho das roseiras e furou um dos bebês figo, e com a pontinha melada do espinho escreveu no papel: "você consegue me ouvir?". Enrolou o papel numa pedra e lançou-o de volta à janela da torre de nossa princesa. Surpresa pois o bicho sabia escrever e feliz por ter alguém, ela gritou toda empolgada: CONSIIIIGO!!!!!
Ele assustado, sorriu. Mas sorriu com o coração. A princesinha não só conseguia ouví-lo, mas também estava feliz por isso, o que era magnífico.
Sentindo-se livre, a princesinha abriu seus braços para sentir os novos ares da sua vida. E naquele momento, sem hesitar, a criatura tirou de sua costas um arco e algumas flexas e acertou a nossa princesa.
Momento rápido, ela olhou nos seus olhos com vigor e viu apenas indiferença. Inexpressão.
O vermelho do seu sangue quente escorreu manchando seu lindo vestido branco.
A princesinha morreu. Apodreceu. E sua carne foi comida por urubus que entraram pela janela aberta.
A criatura saiu. Foi embora. Não ganhou nada, mas também não perdeu.

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